quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Alma calma


Alma calma
Arruma a cama e deita
Urgente é viver
Tudo mais é evento
Acontecimento que passa
Alma fica
Lança-te ao mar
Deleita

Figueira (6.2.2013)

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

“Caminhamos sós”

Tua tez, miúda

Me desnuda os poros

Me frangalha os nexos

Me polui o sexo


Tu, pompuda

Me invade

Me constrange

Me aguça


Ai de ti

Em teu silêncio inerte


Ai de mim

Que me calo em febre


Ai de nós

Que não sabemos um do outro

E caminhamos sós

“Simples”

Para escrever poemas

É preciso

Ver poesia

Nas coisas

“Nome de Rua”


O centro da cidade

Abstrai seu coração de concreto

Em seu círculo vicioso

De ângulos retos

Pessoas se perdem nas esquadrias

De suas vias

De nomes pomposos:

“Marechal Não Sei das Quantas”

“General Etecetera”

”Fulano de Tal”

“Beltrano”

Os revolucionários não dão nome

Às ruas

Pois passam por elas

Movidos por algo maior

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

"Uma estátua"

Uma estátua.
Um convento.
Uma lasca.
O vento.

Tiro no escuro.
Afago a olhos nus.
Dúvidas.
Cruz.

Um pouco de sorte.
E três pães de queijo.
Amor: vida e morte.
Veneno e remédio: desejo.

Filmes que vi.
Livros que li.
Cenas que fiz.
Romances servis.

Gosto gostoso.
Rosto vistoso.
Charme perene.
Mãos sem m.

Cama.
Mesa.
Banho.
Em quintal, casa e rua.

Cão sem dono.
Mulher nua.
Menino moleque.
Homem senhor.

Reticências.
Interrogações.
Pausas.
E canções.

Eu sou...

Sei do pedaço de Eternidade que me habita.

Trago uma fenda em meu peito donde me olho num espelho.

Falo calado. Penso em voz alta. Capto o outro em pensamento, sem nada dizer.

Me perco, no outro me encontro: Me apego.

Me perco no outro, me encontro: Desapego ou nem pego.

Comunico em obscuro claro e sub-objetivo.

Não posso ser acusado de não dizer o que já foi dito nas entrelinhas.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

“Alma de Ator não Dói ou Apenas Técnica"

Quando estou com a alma empoeirada, minha fala sai assim meio embargada.

Pareço parecer mais do que ser, me revelando um outro ser que me orbita e por hora me habita.

Queimo por dentro, mas não mais dum fogo ardente.

É mais um latido latente de um cão sem dente e sem osso pra roer.


Minh`alma nesse estado faz doer a mim e aos do lado.

Do lado de lá vejo nada.

Apenas luz e ribalta.

Pro lado de cá não tem escada, nem jangada que traga quem ousar pisar nesta calçada sem fundo.

Todo palco é um mundo (à parte).


Minh`alma assim reflete um mundo sem princípios, só o fim.

Tudo cinza e chuva e chuva cinza (não prateada).

Tento iluminar-me ao mundo numa risada.

Nada: é pouco.

Tento extravasar minha fúria num soco.

Mas isto não me pertence.


Minh`alma quando guarda este resquício de dor e mágoa se esquece.

Esquece que é amor.

Que sou ator.

Que minha função é forjar estados.

Que meu estado é um forjar de funções.

E nisto não há torpor ou emoções.

Apenas técnica.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

"Já fui..."

Já fui pedra, já fui melancia... Abelha... Flor...
Já fui pó de estrela, um dia.

Hoje sou assim: menino, poesia e amor.

Muito julgo, pouco minto. Muito sinto.
Sinto muito, mas sou assim.
E aí, gosta de mim?

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

sem reticências mais

Procuro, pois não procrio. Estou escuro no cio de escudo-peito vazio. Meu ex-coração lateja. Lampeja que nem tijolo baiano em testa de ferro mineiro. Dinheiro... Pra que dinheiro se ela... Não... Não vou mais usar reticências neste caso. Não caso e pronto!

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Estou magro...

Estou magro...
Magro de tanto comer
Quase morro de tanto correr
Quase todo de tanto me ser
Todo tolo de tanto você me vencer
O ouro de tolo que você me viu ser
É a folha de louro que você merecer.

Cosmo-agonia em espiral

Documentos no micro: expressões de momentos-confusões no macro
Cosmo-agonia em espiral voltante
1000 Volt’s, mil voltas, meus vértices
Cortes cortantes, rezas rezantes
Antes de tudo: reze antes.

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

quarta-feira, 25 de outubro de 2006

pensamento es-correndo

O que tem esta tela que me suga pra ela? Que mistérios guarda sem que me revele nada além do desejo de não sair mais de sua fronte? A fonte deste segredo está arquivada em mim num lugar tão não-lugar que nem consigo acessar a memória de tal experiência. Ciência... Parece que o conhecimento humano desconhece tudo o que deveria realmente conhecer. Daí o que fazer? A ignorância é um santo remédio para nos manter inercia-mente. Congruente, confluente, cão sem dente é o que me habita nessas horas sem luz do dia. Um dia eu fujo e então será tarde demais. Para que mesmo? (.../?)

sexta-feira, 13 de outubro de 2006

"Entendo..."

Já entendi que não entendi nada do que deveria ter entendido há tempos atrás. Mas por não entender que o que se deve entender nunca se entende na hora, continuo não entendendo nada a tempo de entender qualquer coisa a tempo. Ainda há tempo para entender algo? Ainda é tempo de entendimento? Sinceramente... Não entendo!

domingo, 1 de outubro de 2006

Nada morre, tudo muda.

Nada morre, tudo muda.
Muda de planta.
Planta da casa.
Casa da gente.
Gente de Deus.
Deus do povo.
Povo de luta.
Luta por tudo.
Tudo ou nada.
Nada ou tudo.
Tudo se transforma.

quinta-feira, 28 de setembro de 2006

"Rasgado pelo Tempo"

Rasgado pelo tempo, fico aqui em verso e prosa me con_fundindo em minhas palavras. Não busco nada além do que já tenho dentro de mim, perdido em algum lugar que intuo não ser tão longe. Um não-ser tão longe de mim me habita e sei que ele sou eu do avesso. Ainda o quero em mim depois que esta chuva passar. Prometo-lhe honrar a viagem. Para que ele caiba em mim, preciso deixar de ser este eu-antigo tão logo o possa. Preso na poça d'água, meu rosto se despede, se despe de mim e me pede que nunca mais o olhe desta maneira, com estes olhos. Aceito o convite e vou além. Amém, Amém, Amém!

domingo, 24 de setembro de 2006

"Prazer"

... Pprrr ...

...AAAA...

...zzz...

...EEEE...

...rrrrr ...

quinta-feira, 7 de setembro de 2006

“Amor Constante”

Amor é como amoras que caem do pé sem que possamos controlar sua queda. Vai e vai e vai... Não pára nunca mais de cair, pois nunca começou. Pense num pé de amoras que brota infinitamente, manchando todos os dias o solo com sua tinta-fruta-cor-vermelha-escura. Escudo de quem ama é o próprio sentir-se amando. Amar é ainda melhor do que ser amado. Amar não pede nada, só dá... Dá... Dá... Amar é um ato de liberdade do próprio ego. É livrar-se da falsa sensação de que se é algo de importante sem outrem. Amar transborda e contagia. Só quem ama confia. E só quem ama é de confiança. Amor é pedra bruta cuja labuta do tempo faz valer toda a esperança. Todas as esferas do universo amam infinitamente. São movidas pelo amor. Sejam elas planetas, estrelas, olhos de pássaros em movimento. No amor vivo e fluo como o vento que vem sem norte e carrega consigo toda a sorte de quem um dia soube o que é o amor, pois o sentiu fremente em si. Eternamente seu. Assim sempre será o amante: Um ser constante no ato de amar.

domingo, 3 de setembro de 2006

Quanta limitação!

Um vulto de pensamento do cílio do sopro do olho esquerdo de Deus. Isto é a existência. A desistência permanente de ser ou não ser isto ou aquilo não nos leva a lugar algum. Nenhum de nós pensa de verdade. Conceber o pensar é algo inatingível. Atingir qualquer concepção cabível, nos é totalmente execrado dos modos de produção (mental, emocional, espiritual). Entender é aproximar-se da ignorância. Subentender é o que de mais sublime podemos fazer, mas para isto, precisamos de outra mente-corpo-espírito intangível. Intransigência é o que permeia toda produção mental humana. Pensar como as flores deve ser bom. Bom como ser fruto. Eu, ser humano bruto, luto contra a incapacidade de ir além do que considero além. Quanta limitação senhor... Quanta limitação!

sexta-feira, 25 de agosto de 2006

“Paradoxo Dialético”

Deveríamos nascer em dois, sempre. Isto mesmo, todos deveríamos ter direito a um duplo de nós a cada um que nascesse. Por quê? Porque sempre temos soluções práticas para os problemas alheios e se fôssemos nós, alheios de nós mesmos, poderíamos resolver nossos próprios problemas sem consultar estranho algum. Mas surgiria daí o problema de ser-mos nós, estranhos a nós mesmos? Surgiria sem sombra de dúvida, pois sendo nós apenas um, já defrontamos tal paradoxo dialético apenas em relação ao nosso ego e outras partes de nós que ainda nem têm nome, caso fôssemos um par, dobrariam também os conflitos. Mas e aquele papo de um solucionar o problema do outro (que é o mesmo)? É... Não tem jeito... O jeito é se virar sozinho mesmo.

sexta-feira, 4 de agosto de 2006

Tambor sem pele não, Tambor de pele nova!

Caiu a pele do meu tambor, junto dela, caiu minha pele também. Meu tambor veio da África e parte de mim também veio de lá, de tão longe que foge ao olhar. Ao sangue, à atitude e à consciência, jamais! Meu tambor é tocado por muitas pessoas. Eu não sou tocado por ninguém, há tempos. Temos (meu tambor e eu) uma ligação de origem em Nação, portanto, somos uma espécie de irmãos. Senti a dor de meu tambor ao perder sua pele e o acalentei dizendo que esta pele já lhe prestou o serviço que devia e que agora outra pele nova e revigorada viria e lhe possibilitaria o som, que é seu motivo de existir. Ele disse o mesmo pra mim. Aprendi a trocar de pele observando a serenidade de meu tambor com e sem sua sonoridade. Aprendi a tocar sua pele, permitindo que a dele tocasse a minha e que nossas almas se tocassem ambas, ambíguas, binárias, siamesas, Secretas. Ao longe ouço seus toques-de-longe a me acalentar. Seu som, que é o motivo de sua existência, o acompanha sempre, mesmo quando parece nada tocar. Assim sou eu meu tambor. Mu-dança: um dança na an-dança da gira do mundo. Este um sou eu, eu-som. Trocar de pele pede sede de virada. Sábio instrumento de Poder, me vire do avesso e me faça saber tanto quanto você. Vamos nessa Erê. Trocar de pele é se re-erguer|reiro-nato|!

domingo, 30 de julho de 2006

Papeando com a mente

Me diga a verdade, mas somente ela: Semente sem mentira da Nova Era. Me diga: O que é que estou fazendo aqui se não faço nada? Tudo bem... Nada é pouco demais. Faço um pouco... Nada de mais, apenas algumas atidadezinhas sem grande merecimento, algumas coisas frias, cinzas e pesadas como o cimento. Até sinto prazer (as vezes!). Quando sinto meus magros ísquios no chão, me lembro do que sou feito e me sinto feio, frágil e tolo. Mas também me sinto bem, vai do dia sabe? Saber o dia é coisa tão rara que só de pensar já vira segredo. Coisa assim a gente não divide, não tem jeito! É uma questão de... Uma questão de... Ah! Já sei! É uma questão de merecimento sem merecer! Entendeu? Então... É isso aí. De resto não sei de mais nada, nem do que sei quero mais saber. Saber cansa quando se faz isto de maneira consciente. É preciso ter a consciência tinindo para não andar por aí mentindo. Para andar sorrindo então, viche! É preciso ser consciência retinida o tempo todo! Os músculos do rosto não se cansam quando sorriem muito de verdade o tempo todo. É uma questão de... Uma questão de... Você já entendeu não é? Então é isso aí... E não é dessa coisa toda que somos feitos afinal. Pois é...

sábado, 29 de julho de 2006

Verborragia

Errar. Pensar. Refletir. Sentir. Aceitar.
Recomeçar. Buscar. Nutrir. Construir. Tentar.
Destruir. Punir. Tirar. Levar.
Trazer. Salvar. Dar.
Receber. Chorar. Chover. Ventar. Pular.
Girar. Dançar. Transladar. Brincar.
Criar. Cantar. Assobiar.
Ouvir. Ver.
Escutar. Enxergar.
Traduzir. Falar. Dizer.
Sensibilizar. Paladar. Olfatar. Tatear.
Viver. Doer. Amar. Morrer

sexta-feira, 7 de julho de 2006

consolida Tua presença

Consolida com solidez tua presença. Faça-a ser como é. Faça-se como é. Não pare por pouco. Não cale por muito. Não fuja por nada. Esteja e seja. Sinta e seja. Faça e seja. Deixar de ser o que se é, é o pior crime que se pode cometer contra si mesmo, logo, é o pior crime que se pode cometer contra a humanidade. Humanize-se cada vez mais. Não há tempo a perder sendo outra coisa que não seja você. Esteja atento sempre. Qualquer deslize pode te tirar do eixo. Mantenha seu Exú alerta, pois é ele quem libera suas porteiras. Liberta! Liberta! Liberta! Liberta tua presença agora de tudo que não seja você em você. Não há tempo a perder. Esteja atento sempre e sempre. Tome tento, escute teu silêncio, ele te pertence e te traz tudo o que você precisa aprender. Apreenda o que é seu. Cuide bem de seu Exú, para que ele cuide bem de seu eixo, para que ele cuide bem do que é seu, para que tudo isto junto te ensine a cuidar bem de si mesmo e de quem necessita de seus cuidados. Axé!

quarta-feira, 5 de julho de 2006

Auréola das Bolhas

Um dia ainda compreendo o mistério contido na existência d’uma bolha de sabão. E neste dia eu serei o mais sábio entre os homens e de tão sábio rirei. Rirei bem alto e não terei vontade de estourar a bolha, pois saberei que não existe graça nem necessidade nenhuma nisto. Então, após bons sopros sutis na auréola das bolhas, me deitarei nu na grama e saberei que ela é minha mãe e que sempre esteve ali para me acalentar quando precisei. Vou chorar de alegria e de amor. Lembrarei de minhas tristezas e poderei rir delas também, pois vou saber que tudo não passou de um grande pretexto para que eu aprendesse algo. E saberei ainda que tudo isto é menos importante que uma bolha de sabão. Saberei que o estouro da bolha é muito mais intenso. Que suas cores se misturando são muito mais harmoniosas. E que, para ela (a bolha), tanto faz existir ou não, pois ela sabe que isto é apenas mais um entre os tantos detalhes dos quais tudo é feito.

sexta-feira, 30 de junho de 2006

Aquilistismo

Será que um dia eu aprendo a amar e respeitar ao mesmo tempo? Parece ser honraria demais para um Ser em grau tão baixo de elevação. Mas será que um dia eu consigo? Quer saber se amo (gosto, admiro, quero bem) alguém, pergunte se já o machuquei. Amo e magôo em tempo igual. Discernimento é o que faz tanta falta nessas horas de aperto. Meus amigos (que amigos?) que o digam! De que adianta saber qual é a diferença entre isto e aquilo se na prática o que sai como ação é um aquilisto desmedido? A pior coisa do erro (pois um aquilisto é sempre um erro) é que só o percebemos quando ele já ocorreu, pois no momento em que o estamos praticando, ele se passa muito bem por acerto. Dizem que o primeiro ator foi o Tespis, mentira! O primeiro, melhor e imbatível ator de todos os tempos é, e sempre será, o erro, este galanteador das almas frágeis. Maldito aquilisto que me persegue a prática! Não dou uma sequência completa de sete passos sem que ele se apresente sorrateiro na sola de um deles. Deste jeito fica difícil o aprendizado! Ou será que é aí que moram as grandes lições? Talvez... O fato é que sempre é uma merda se sentir um bostiririca de nada. Ê sensação de impotência que adora se esfregar em meu pescoço... Sai fora! Já te dis-pensei faz é tempo, viu sinhá moça? Eu quero mais é viver o bem que reside em minh’alma, sem sequer deixar espaço de fração de segundo pra senhora adentrar meus pulmões-de-vento-pensamento-e-tempo. Pensamento vai longe quando se ocupa do que é bom. Enxota mesmo os malfazejos. A palavra chega a deslizar por entre os poros dos dedos, língua, boca e ouvidos. Coisa boa é escrever, tão boa que não precisa nem saber, basta querer e fazer. É música! Nestes momentos-escritura, sinto que meus ouvidos sabem escutar e que minha mão sabe pegar e que minha boca fala e meus olhos enxergam, até mesmo o nariz – sempre esquecido no meio da cara – cheira! Tudo assim: direitinho... Mas só dura estes instantes do teclar de um texto ou do roçar da ponta da caneta no papel. Depois passa e me des-cubro tapado novamente. Será que um dia eu aprendo a ser eu de verdade, permitindo que o outro seja o outro e que o mundo seja mundo sem querer que nada mude e sem opinar ou optar por nada? Todo dia é um dia bom pra morrer, já diziam os sábios índios da Floresta. Espero que neste dia eu não tenha feito nenhuma cagada.

domingo, 25 de junho de 2006

Passagens

Passagens são portais de luz que se abrem dentro de nós. Não pedimos com a voz do corpo. Pedimos, sem pedir, com a mesmíssima voz do Tempo. Ventos se movimentam como deuses. Deuses se movimentam como sabem. Sabedoria é algo mágico que só as pessoas simples de alma sofisticada possuem (sabendo que não possuem coisa alguma). É divino e dourado o Dom de respirar as impurezas deste mundo e ainda assim expirar alegria e leveza para os irmãos de existência. O Tempo existe em nós, como nós existimos Nele. O grande mistério deste diálogo está justamente no momento da fissura. Rasgamos... Rasgamo-nos todos como as flores se rasgam para abrir em sua beleza. Leveza é coisa pura e pureza é coisa leve. E isso está longe de ser um trocadilho barato, pois este assunto é tão caro como raro de tocar. Bonito mesmo é transcender! Pois no momento que transcende, algo acende e tal ascendência se dá assim de forma pura, leve e solta como uma brisa de tempo que se esvai no vento forte da eternidade... da eternidade... da eternidade...

domingo, 18 de junho de 2006

Ah! Deus... Nosso tempo.

Nosso tempo está passando agora neste exato momento que não é mais este, nem é mais outro, pois mesmo o outro já passou e o que é que estamos fazendo com isto? Não é tempo de dormir, pois adormecidos estamos todos. Todos os dias entregamos nossas vidas à burocracia e esperamos que ela nos responda o motivo de nossa vinda. Não respiramos mais como o fazíamos tão bem quando bebês. Comemos comida sem sabor e nem notamos. Raro é o som que permitimos ser música aos nossos ouvidos. Vícios e carências nos cercam e guiam nossos passos. Nem mesmo a palavra querer tem sentido neste estado de dormência. Demência. Quem é o demente? A realidade se apresenta como algo do qual devemos fugir, pois não há nada de real nela. A realidade não mais me espanta, mas sim me espanca, todos os dias. É mais fácil dormir, mas para isso, devo esquecer de que o nosso tempo está passando. E a solidão que refrigera minha alma e o ar que sai de mim, nem ela mais me acompanha. O que está comigo não tem nome, não pode ter. Cadê o que me magoa? Cadê o que me alegra? Tudo o que me confere vida se foi. Se minha vida tivesse ido junto, eu provavelmente não estaria aqui me queixando em vão. Nada do que se faz é em vão, pois tudo o que é feito, o é dentro de um tempo (que passa). Seria o tempo o que me confere vida? Se assim for, é tão triste notá-la. Não quero viver se isso significar a percepção deste fenômeno. Não controlo o tempo. Não controlo nada, nem minhas palavras, elas saem de mim sem que sejam minhas. O que devo fazer com isto? Falta controle... Sobra burocracia. Vejo coisas o tempo todo e isto não diz respeito a ninguém. O que é mesmo a realidade? Tanta carência que o não-ser se faz mais presente que o ser que me habita. Se eu sou lar de algo, sou um lar sem paredes nem teto. Não abrigo ninguém, nem a eu mesmo. Carrego comigo algo que sei que não sou eu, que nem tampouco me pertence. O que devo fazer com isto? A parte mais chata de estar vivo é esta idéia de que devo estar sempre fazendo alguma coisa com as coisas. É que sempre me esqueço de que as coisas não dependem de mim. Elas (as coisas) simplesmente existem. Gostaria de simplesmente existir. Ser simplesmente uma coisa, assim, sem precisar fazer nada pra isto. Não sou coisa nem nada. O que sou? Gostaria de ser uma partícula da voz de Bjork se esvaindo pelo espaço num grito infinito de luz com todas e nenhuma cor. Ser coisa é a melhor coisa que se pode querer ser. Coisa sem sem nome, entre os meus, teu nome é Deus. Adeus! Ah! Deus... A deusa do destino me disse esta noite que eu era menino antes de ser velho e que tornar-me-ei menino novamente antes que o perceba. Por isso não consegui dormir e passei a noite inteira querendo morrer de novo, para nascer de novo e viver de novo, para morrer de novo. Ah! Deus... Um novo Deus é preciso, mas para isto, ainda hão de haver muitos e muitos adeuses às deusas que regem o universo que, há muito tempo, não é mais masculino. Deus é Mulher e isto fere os ouvidos dos homens de meu tempo. Como podem homens sem tempo, terem tempo para obser-ouvir a Mulher que habita, rege e é a natureza de todas as coisas? Um som de “s” rasga o espaço e me faz serpente que de repente se esvai de e em mim para a eternidade amém. Não consigo mais sair daqui. Parece que antes de nascer, tudo isto já existia em mim e que agora que me percebo em existência, não faz mais sentido outra coisa qualquer que não seja estar neste aqui-agora que se apresenta. Me vem à mente mil-e-uma palavras que não existem, pois não há letras que lhes representem fielmente. O que devo fazer com isto? Parece que vim a este mundo para perguntar, apenas perguntar e nada mais. Se não devo saber as respostas, por que devo perguntar? A resposta está em mim ou fora? Até para perguntar existem regras. Existem por ques e por quês. Porque dependendo do por quê, a resposta muda. Resposta muda. Este mundo de respostas mudas machuca. Ninguém me ouve, pois ninguém, sequer, se ouve. Ouvir é arte esquecida nos tempos de hoje. Vivo sendo corrigido e tento estar atento para não errar novamente, mas quem é que sabe o que é certo? Todos acreditam o saber, mas não é verdade. A verdade é uma só, mas ninguém sabe onde encontrá-la. Viemos a este mundo compartilhar nossa ignorância e, mesmo assim, uns se acham menos ignorantes que outros. Mais ainda! Tem aqueles que crêem veementemente que não são ignorantes. É de pasmar-se. Sabedoria é algo que vem com o tempo, só pra que – no fim – descubramos que ela não existe de fato. Uns inventam serem sábios, pois conhecem algumas artimanhas de agradamento e outros (os agradáveis) caem direitinho como lebres comendo legumes sob a rede, sem saber o mal que lhes espreita. Mesmo não querendo agradar, as vezes agradamos as lebres sem perceber. Mesmo não querendo, as vezes nos esbaldamos com legumes alheios. Viver é uma arte sabe-se lá do quê! Fico na dúvida se a vida é um bloco confuso com algumas lacunas de ordem, ou se o caos é a lacuna. O caos tem tanto charme que por vezes desejei que ele fosse a verdade, a realidade possível, a energia regente. Sem o caos, o que sobra é o saco, do qual se deve coar e chacoalhar tudo o que é aresta, pois o que resta não mais presta, nem voltará a prestar ou a ser qualquer coisa. Na verdade, quero um mundo sem coisas, mas sim, com caosas. Se todas as causas forem filhas do Caos e das Coisas, então daí sim, valerá a pena viver. Vir e ver e ser. Daí então tanto faz se Deus é este ou aquela, pois o que realmente importa, não importa mais. Nem nós que não somos nada além de nem nós mesmos, nem nós nos importamos nem importaremos mais com qualquer coisa que seja ou não seja. Por que escrevem coisas assim? Por que fazem filmes assado? Linguagem é coisa tão efêmera diante da eternidade. Para que fazê-lo? Creio ser só um inventáculo para expor o que não cabe. Se somos cheios de coisas que não cabem, por que as temos? Talvez parta daí o desejo de com=partilhar. Mesmo num tempo no qual nada mais é passível de compartilhamento, ainda sim, é importante tal esforço. Desumano, mas importante.

terça-feira, 30 de maio de 2006

Uma raiva

Estou com muita raiva!!!
O bom de me alimentar disso é que fico mais atento para certas coisas...

quinta-feira, 25 de maio de 2006

kharma

Nunca conheci algo tão persistente quanto essa tal de Esperança. É... Realmente ela é a última que morre mesmo! Mas enquanto este falecimento não ocorre eu fico aqui querendo correr pra qualquer canto, querendo cantar de galo noutro canto qualquer, onde eu não tenha passado e onde meu presente seja um futuro infinito. Sem todo esse choro que não pára de jorrar. Sem toda essa mágoa que eu mesmo plantei e agora colho farta safra. Sem esta CULPA, com a qual acordo todos os dias e da qual não fui perdoado por Ela e, sendo assim, não consigo nem ser perdoado por mim, portanto, não consigo abrir meu coração, pois ele está sujo desta culpa sem perdão. Os zen budistas chamam isto de kharma e, segundo a doutrina deles, se eu não atingir o perdão nesta vida, voltarei quantas vezes forem necessárias, até que Ela me perdoe e, provavelmente, não conseguirei amar novamente até que essa penúria acabe.

quarta-feira, 17 de maio de 2006

amor-doença

Não há problemas em querer ter alguém que se ama e querer que este alguém também te ame. O problema é não amar ou não ser amado. Amor é uma via de mão dupla, caso o contrário, não é amor, mas sim projeção, des-proteção, ausência de si, doença. Só o verdadeiro Amor nos cura do amor-doença.

domingo, 7 de maio de 2006

escrevivo

"A Lei do apito"
Na madrugada, só o apito da moto do guarda é que se faz presente. Parece até que ele existe por si só, que não precisa de ninguém para Ter motivo de ser. Invejável este ser, o apito. Como pode ele se esquecer de que é o apito da moto do guarda!? A primeira vista ele parece ser inteiramente dependente da moto, que é dependente do guarda, que depende dos moradores, que devem ser defendidos de possíveis bandidos, dos quais depende o medo dos moradores e também os policiais, que abstraem existência de um guarda de rua que tem uma moto que apita. Deve ser bom ser um apito, os apitos parecem não dar a mínima importância para as hierarquias.

sexta-feira, 5 de maio de 2006

Alma. É apenas esta a parte que dói. De resto... Tudo passa... Sempre. (?)

segunda-feira, 1 de maio de 2006

O negócio é esse, mas que negócio é esse?

"Sendo canal"

Quem é você? De onde você veio? Pra onde você vai? Por que você escolhe o que escolhe? Por que você cria este caminho? Quem te cerca te segue? Quem te segue te acompanha? Quando é que você se sente sozinho? É bom estar só? Você é feliz? Você realmente sabe o que é ser feliz? Você transborda seus sentimentos sobre os outros? O que você quer? O que você pode? O que você tem? Você sabe olhar e enxergar? Você consegue ouvir e escutar? A vida tem aromas e sabores, musicalidade e movimentos, brilhos e cores. Tudo isto realmente chega até você? Abra seus poros! Abra seus poros!Abra seus poros! Seja canal.

"O caminho, a vontade e o fim"

Quem tem vontade, tem um caminho. Quem tem boa vontade, tem vários caminhos. Caminhar é preciso? Não! Caminhar é necessário, porém, impreciso. Muitas escolhas, muita incerteza. A única coisa certa é que o fim chegará, não se sabe como, não se sabe onde e nem quando, mas chegará. Os xamãs costumam dizer que hoje é um dia tão bom para morrer quanto qualquer outro. E não existe nada de ruim nesse pensamento,muito pelo contrário. Sábios xamãs...

Ayahuasca

Ayahuaska ponganera! Ayahuaska ponganera! Inca manta medicoca! Incamanta medicoca!

(domínio público)

"Se é seu, pegue."

Se é seu, pegue. Se pegar, use. Se usar, sinta. Se sentir, guarde. Se guardar, tenha. Se tiver, doe. Se doar, seja. Se for, deixe. Se deixar, esqueça. Se esquecer, vá. Se for, volte. Se voltar, espere. Se esperar, sente. Se sentar, descanse. Se descansar, durma. Se dormir, sonhe. Se sonhar, entenda. Se entender, comunique. Se comunicar, registre. Se registrar, contemple. Se contemplar, abstraia. Se abstrair, suspire. Se suspirar, receba e só aí, se for realmente seu, pegue.

sábado, 29 de abril de 2006

"Eu-córrego"

O córrego está se limpando de verdade agora. Águas limpas começam a brotar deste solo e jorram por todos os cantos. Esse rio, que não é o mesmo, corre solto, sob novos conceitos de liberdade, de amor, de lealdade, de honraria, de verdade e de consagração.

domingo, 23 de abril de 2006

Iniciar um novo parágrafo é sempre renovador, principalmente se deixamos de lado tudo o que foi dito na linha anterior e nos permitimos tratar de novos assuntos ou dos mesmos, de nova maneira. A forma sempre nos permite novos formatos. O conteúdo sempre espera ser colocado de um jeito que interesse a quem vê.

O Homem sangue

Ele fugiu. Saiu correndo ensangüentado, após ter se arrastado por quase duas horas por entre um ladrilho mais estreito que a espessura de seu corpo. Como? Até agora tentam responder. O fato é que ele, apesar de gravemente ferido, sentia uma profunda alegria que movia suas pernas na velocidade que lhe era possível. Saltava! Ouvia uma música sem nome e de ritmo desconhecido que lhe embalava ladeira abaixo numa cena em câmera lenta. Olhava em seu entorno, mas não via nada nem ninguém. Deslumbrado, apenas corria sorrindo. O sangue que lhe escorria, não o incomodava. Era como se fosse um bálsamo brilhante que sua alma expelia. O passado não lhe cabia mais. O futuro não existia. E o presente era um presente que ele permitia a si mesmo e aos outros. Não sofria, não tinha tempo. Nada era novo ou repetido, tudo era lindo, limpo, cristalino. Tentaram agarrá-lo, pretendiam socorrê-lo. Mas de quê? Alguns o queriam ver preso. Outros o queriam não ver. Todos o invejavam. Dos que olhavam de dentro do prédio branco, dos que olhavam de dentro do prédio cinza. Ninguém passava ileso àquela imagem viva que pulsava diante de si. Em dado momento, parou. Começou a olhar as pessoas em volta e a enxergá-las. Começou a sentir a dor a que seu corpo se expusera. Viu e sentiu-lhe o sangue escorrendo ferimentos afora por todo o corpo. Doeu-se todo. Doou-se ao chão numa queda incessante, pois mesmo no chão, ainda caia. Um amontoado de curiosos, sedentos de sangue e dor alheias, fechou logo um cerco ao seu redor, que aos poucos deixava de ser seu. Os comentários lhe furavam a cabeça e lhe furtavam o que ainda restava de consciência. Tudo tomava dimensões gigantescas. Cada sussurro, um grito estridente. Cada passo, uma batida de estremecer o chão. O Sol... Ah! O Sol... Parecia que estava deitado sobre o Sol, mas estava apenas sob o Sol e, mesmo assim, suava sangue. Já não via ou ouvia nada. A dor era passado. Suspirou pela metade, tentou lembrar daquela música... aquela mús... Descansou. Após dezessete minutos, um funcionário limpava uma possa de sangue com criolina e o dia seguia seu curso normal.

"Tudo sob controle"

Naquele dia não pôde despedir-se. Estava atrasado demais e não havia tempo para burocracias ou coisa parecida. Um beijo rápido poderia prejudicar todo o andamento de um dia cheio. Pensou... Não, não pensou, pois não tinha tempo. Entrou no carro jogando os papéis de um banco para outro e quase se esqueceu de sentir o gosto amargo que o café deixara no céu de sua boca. Este era um dos poucos rituais que ainda fazia e um dos poucos prazeres de todo o seu dia. Ligou o carro, o ar, o som. Não, o som não; não gostava de música àquela hora da manhã. Na verdade em hora nenhuma. Firmou as mãos no volante, o olhar na pista e a mente na carreira. O coração já não era requisitado há anos. Como quem está bem, ligou o carro e partiu para mais um dia de trabalho. Sem questionamentos. Sem afetações. Tudo sob controle.

sábado, 22 de abril de 2006

Nunca permita que sua mãe note feridas em seu coração, pois serão dois corações feridos.

quarta-feira, 19 de abril de 2006

Salve a Ligação que salva o coração!

Como pode isso: Um telefonema mudar o tempo?
Hoje amanheceu num Sol em céu azul. O cinza do céu se esparsa dentro de mim. Estou agora num estado merecido de paz que se espande para além das fronteiras municipais.

(o melhor disso é saber que um telefonema é apenas um telefonema)

"Só sei que o mundo vai de lá pra cá, andando por aqui por acolá, querendo ver o Sol que não chega..." <>

terça-feira, 18 de abril de 2006

Quem nunca amou não sabe o que é sentir-se só.

segunda-feira, 17 de abril de 2006

"Eu cinza"

"Eu cinza"

Me confundo com o cinza deste dia e com as cinzas dos cigarros que não fumo, mas que só hoje já foram mais de dez para acalentar minh'alma. Este Sol ausente ainda lateja seu calor dentro de mim. Sua chama que arde me chama e me invade e não me deixa partir, me parte. Quem disse que o Sol nasce pra todos não conhece a dor que sinto agora.
E Boi!

Nasce um boi, morre um amor. Nasce um amor, morre... O que é a Vida e o que faz sentido nisso tudo? Cruzo uma rua vejo Seu nome, olho pro lado vejo Seu nome.Quando é que não vejo seu nome? Quando é que vou além do nome? Quando é que vou além? Quando?Q...!? O bom de não saber o que fazer ou dizer é que qualquer coisa que você fizer ou disser vale. Só o que não vale é não viver, é se abster de estar presente no exato momento em que se é chamado. Chamado: é bom estar atento a Ele no momento no qual Ele aparece... Correr atrás do Chamado é correr "atrás" do Chamado... O que, talvez, não funcione.

terça-feira, 11 de abril de 2006

QUEM SOU EU - 2

"Um despedaço desperdiçado, perdido, atordoado e amordaçado que urge pelo urdimento ungido que meu rudimento esconde."(Rodrigo Figueira, num verão de janeiro, Sampa 2006, já passou das 19h no Ipiranga e a chuva que cai... e cai...)

9 - JAN - 2006:

eu não quero ser careta,
eu não quero ser perfeito,
eu não tenho etiqueta,
eu não minto à vontade,

eu não sei rasgar a seda,
eu não penso em lucros altos,
eu não vivo de aparências,
eu não busco felicidade,

eu não digo amém,
eu não dou bom dia,
eu não vivo à toa,
eu não cumprimento estranhos,

eu aprecio virtudes,
eu deprecio corrupção,
eu agradeço à vida,
eu enlouqueço às vezes,

eu falo sozinho,
eu penso sozinho,
eu canto sozinho,
eu choro sozinho.

eu sou fraco mas corajoso,
medíocre mas esforçado,
triste mas sei me alegrar,

estou só,
me sinto só,
sou só... mais um no baile.

(R. Figueira, Sampa: jan-2006)

QUEM SOU EU - 01

Um alguém ou não-alguém que anda por essas paradas que chamam cidades, bairros, ruas, lugares a fio. No tempo que se passa dentro e fora de mim, transpassam lutas, receios, desgastes de todos os gêneros e graus. Indefinido = id:entidade sem norte. A Morte? Sorte que não me chega, que não me enxerga tão cedo. O Medo? Me serve, me invade, me ilude, me cala, me salva. A Raiva? Não me alimenta tanto o quanto quero.Loucura; Lib[v]erdade; M[s]orte; Erostismo = buscas incessantes.O kaos que me habita tramita por entre as esferas do Universo (diverso e paralelo, para além-lo). De subjetivismos sou feito, pois sendo um sub-sujeito, não me rejeito, já que só a mim me sobra o que me esvai.

(R. Figueira - nov 2005)